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20 de novembro

Dia da Consciência Negra

Diversas cidades brasileiras celebram o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, outras tantas o fazem passar desapercebido pelos seus habitantes, sem guardar a data no calendário oficial do município. O lobby existente para se evitar a lembrança em forma de feriado é grande em várias esferas do poder público e privado com o argumento principal de perdas econômicas ocasionadas pelo dia ‘parado’. Em Santa Rita do Sapucaí – MG, por exemplo, é uma das cidades brasileiras que não tem o Dia da Consciência Negra como feriado e ações que lembrem a data.

Perda tem-se na verdade no conhecimento da sociedade brasileira sobre si mesma, no campo da cultura, do pertencimento ao lugar, educação e intelecto. Um estudo feito pelo instituto de pesquisas britânico Ipsos Mori, com 33 nações, mostra que o Brasil é o terceiro país mais ignorante sobre si mesmo.

Tentar menosprezar o Dia da Consciência Negra, ou até mesmo negar fatos vividos pelos negros, contribui para que o Brasil continue a amargar posições como a trazida pela pesquisa britânica.

O Dia da Consciência Negra marca a data de morte de Zumbi dos Palmares, último grande líder do maior quilombo no Brasil na época colonial. O Quilombo dos Palmeiras é localizado, hoje, no território do estado de Alagoas, e teve seu grande líder morto em 1695 em uma emboscada.

Os quilombos também eram conhecidos como mocambos e foram criados pelos escravos como refúgio do regime de escravidão existente. Os que conseguiam fugir em busca da liberdade tinham nos quilombos um local para viver sem a opressão do regime e das barbáries daqueles que se intitulavam seus donos.

Os escravos chegavam ao Brasil depois de serem capturados em suas terras natais na África e eram trazidos em navios que cruzavam o oceano Atlântico. Separados das famílias e sofrendo nos porões nos navios – chamados de negreiros – muitos não resistiam à viagem e morriam no caminho.

Os homens e mulheres que conseguiam sobreviver ao chegar eram comercializadas em praças públicas, o preço dependia das condições físicas. Uma vez vendidos aos seus “donos” passavam a trabalhar sem qualquer tipo de direito. As mulheres eram abusadas por seus senhores. Os filhos dos negros e negras também passavam a “pertencer” a quem os havia comprado.

Três leis ainda no período colonial foram marcos no processo de libertação dos escravos: A primeira chamada de Lei do Vente Livre (1871) concedia liberdade aos filhos de mulheres escravas nascidas a partir da data; a segunda chamada de Lei do Sexagenário (1885) que dizia que todo escravo depois dos 60 anos passaria a ser livre; e a terceira que foi a Lei da Abolição da Escravatura (1888).

O processo de abolição está ligado a outro comemorado em 15 de novembro. “Proprietários” de escravos, entre os quais donos de grandes cafezais, não ficaram satisfeitos com a decisão, já que agora teriam que pagar pelos serviços prestados por meio da contratação de outros homens e mulheres (início do processo de imigração no país). Eles retiram seu dinheiro e apoio à Família Imperial. A perda desse apoio somado a outros movimentos no país leva à queda da monarquia e a instituição da República no ano seguinte, 1889, pelo militar Marechal Deodoro da Fonseca.

Portanto, celebrar o Dia 20 de Novembro é ter consciência de quem somos como brasileiros e como chegamos até aqui.

 

Maria Rosângela Lopes

Presidente SINDVAS

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