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Um terço das empresas com trabalho escravo está em Minas Gerais

Um terço das empresas com trabalho escravo está em Minas Gerais

Uma em cada três empresas incluídas na lista suja por praticarem condições de trabalho análogas à escravidão estão em Minas Gerais, que ocupa o primeiro lugar desse ranking. Das 131 empresas autuadas em todo o território nacional, 42 têm negócios no Estado, conforme a lista não-oficial divulgada no último domingo pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo. Na lista oficial mais recente, atualizada em julho pelo Ministério do Trabalho, 29 das 82 empresas autuadas são mineiras, o que significa 35% do total.

Em número de trabalhadores resgatados pela fiscalização, a União Agropecuária Novo Horizonte S.A. foi o destaque, com 348. A reportagem procurou a empresa, mas não conseguiu resposta até o fechamento desta edição. Ao “Fantástico”, por meio de nota, a empresa informou que “não tem um palmo de terra” em Minas Gerais.

O ano da autuação foi 2013. No mesmo ano, a Diedro Construções e Serviços Ltda também foi fiscalizada pelas condições análogas à escravidão de 173 pessoas em um canteiro de obras em Conceição do Mato Dentro, na região Central do Estado.

Por meio de nota, a Diedro disse que a inclusão é indevida, “já tendo tal assertiva sido rechaçada e desmentida em 2013, oportunidade em que a empresa prestou todos os esclarecimentos pertinentes, que redundaram na formalização de Termo de Ajuste de Conduta (TAC) e nos consequentes arquivamento e encerramento de quaisquer questionamentos a respeito.” A construtora ressaltou que irá adotar as providências para sua imediata exclusão dessa listagem.

Mas o auditor fiscal do trabalho do Ministério do Trabalho Marcelo Campos afirma que ambas as inclusões na lista são procedentes. “Vale lembrar que o nome da empresa somente aparece depois de todo o trâmite administrativo, o que leva tempo”, diz.

De acordo com o ministério, no processo administrativo decorrente do auto de infração é assegurado o amplo direito de defesa. O nome do empregador permanece divulgado no cadastro por um período de dois anos.

Falta

Campos ressalta que a situação dos trabalhadores pode ser pior, já que não há verbas nem número suficiente de auditores fiscais. “Existe um déficit de cerca de 1.300 fiscais no país, e de 200 no Estado”, afirma. Atualmente, Minas Gerais conta com cerca de 300 auditores. No Brasil são 3.300.

Entre as áreas com mais trabalhadores em situação análoga à de escravo estão a construção civil e a cadeia do agronegócio. No caso da Diedro, um dos problemas foram as condições degradantes dos alojamentos de trabalhadores do Haiti e de 73 brasileiros da região Nordeste do país. No caso da outra empresa, a motivação para o trabalho prestado por aquelas pessoas, segundo o relatório da fiscalização, era a convicção religiosa ou ideológica, e não a celebração de um contrato de trabalho, em várias cidades do Sul de Minas.

Auditor diz que regra é ilegal

As novas regras relativas ao trabalho análogo ao escravo restringiram o acesso à chamada “lista suja” – cadastro de empregadores autuados por manter trabalhadores em situação semelhante à escravidão. A relação só será divulgada por determinação expressa do ministro do Trabalho. “A atualização da lista não foi publicada como deveria”, diz o auditor fiscal do trabalho Marcelo Campos.
Ele diz que a portaria torna impossível a atuação dos fiscais. “Ela é ilegal”, frisa. Nesta quarta-feira (25) haverá uma coletiva para detalhar os impactos no dia a dia da categoria.

O Tempo

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