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Avanço da tecnologia acentua desigualdade salarial nos EUA

Avanço da tecnologia acentua desigualdade salarial nos EUA

Há uma fábrica da Intel que está sendo construída por US$ 7 bilhões (R$ 26 bilhões), para produzir chips de sete nanômetros em Chandler; em Scottsdale, a Axon, fabricante da arma de choque Taser, vem contratando talentos do Vale do Silício, enquanto adota a automação para atender à demanda por seus produtos. Startups em ramos variados como o de aeronaves autônomas e o do blockchain estão afluindo à região, atraídas em parte pela regulamentação moderada e pelos incentivos fiscais. E a Universidade Estadual do Arizona vem formando muitos engenheiros.

E, no entanto, apesar de todo o seu sucesso em fomentar a criação de empresas na fronteira da tecnologia, Phoenix não consegue escapar a um padrão desconfortável que vem se estabelecendo na economia dos EUA: a despeito de todos os seus novos e reluzentes negócios de alta tecnologia, a vasta maioria dos novos empregos criados na cidade é no setor de serviços, como saúde, hotelaria, varejo e serviços gerais —áreas cujos salários são medíocres.

As previsões sobre um país em que os robôs farão todo o trabalho enquanto os seres humanos vivem de algum programa de bem-estar social que ainda não foi inventado parecem um sonho ingênuo do Vale do Silício. Mas a automação está mudando a natureza do trabalho e expulsando trabalhadores de baixa escolaridade de setores produtivos como a indústria e os serviços de alta tecnologia, relegando-os a trabalhos de salário miserável e sem perspectiva de avanço.

A automação está dividindo a força do trabalho dos EUA em dois mundos. Há uma pequena ilha de profissionais de alta escolaridade que ganham ótimos salários em empresas como a Intel e a Boeing, cujos lucros são da ordem de centenas de milhares de dólares por trabalhador.

Essa ilha fica no meio de um mar de trabalhadores com escolaridade mais baixa, presos a empregos em hotéis, restaurantes e casas de repouso, que produzem lucro menor por trabalhador e só se mantêm viáveis ao pagar salários baixos.

Fabricantes de semicondutores como a Intel e a NXP estão entre as empresas mais bem sucedidas da região de Phoenix. De 2010 a 2017, a produtividade dos trabalhadores dessas empresas —medida do valor em dólar do que eles produzem— cresceu cerca de 2,1% ao ano. Os salários são ótimos: em média, US$ 2.790.

Mas o setor não gera tantos empregos assim. Em 2017, o setor de semicondutores e equipamentos correlatos empregava 16,6 mil pessoas na região de Phoenix, 10 mil a menos que três décadas antes.

O grosso dos empregos, porém, fica do outro lado da divisa econômica —na área da baixa produtividade. Os serviços gerais, por exemplo zeladores e jardineiros, empregavam quase 35 mil pessoas na região em 2017, e a saúde e serviços sociais respondiam por 254 mil trabalhadores.

Restaurantes e outros estabelecimentos de alimentação empregavam 136 mil trabalhadores, 24 mil a mais do que no pior momento da mais recente recessão, em 2010. O salário médio é de menos de US$ 450 por semana.

The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

THE WALL STREET JOURNAL

Folha S.Paulo

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