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O motor dianteiro é a principal causa de adoecimento físico e mental para profissionais do transporte coletivo urbano

O motor dianteiro é a principal causa de adoecimento físico e mental para profissionais do transporte coletivo urbano

Três cadernos técnicos com os resultados de pesquisas que investigaram o meio ambiente de trabalho de motoristas e agentes de bordo do transporte público coletivo urbano foram publicados na última quinta-feira (3). A pesquisa foi viabilizada por meio de uma cooperação entre o Ministério Público do Trabalho em Minas Gerais (MPT-MG) com o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), que teve início em 2020.

Para o professor do Departamento de Engenharia de Transportes (DET) do CEFET Renato Ribeiro, responsável pela coordenação dos trabalhos de pesquisa, os resultados vieram em momento oportuno: “vivemos uma inflexão na curva do transporte coletivo, com novo cenário e com discussões sobre a qualidade desse serviço ofertado e sobre quem o financia. Inserir o trabalhador e a qualidade dos veículos neste momento é fundamental para garantir que essas alterações beneficiem o trabalhador brasileiro, o usuário e os gestores públicos para que possa ser ofertado uma cidade com um serviço melhor no transporte coletivo e com saúde para esse trabalhador”, finaliza.

Dentre os dados divulgados durante o lançamento dos cadernos de pesquisa, o professor do DET André Guerra destacou que de 2012 a 2019, 56% dos motoristas foram afastados por estresse, 32% por transtorno de ansiedade e 26% por dorsalgia (dor nas costas); Com relação à posição do motor no ônibus, 100% da frota europeia tem motor traseiro e piso baixo. Já em Belo Horizonte, 94% possui motor dianteiro e 99% dos veículos têm piso alto, diminuindo a acessibilidade e a ergonomia.

“O motor dianteiro é uma fábrica de adoecimento, o turnover ou rotatividade de empregados é alto na categoria, as pessoas vão adoecendo, sendo substituídas e quem paga a conta é a população. O custo está na conta da população até o 15º dia útil de afastamento ou, após o 15º dia, no custo da Previdência Social, do SUS. O desinteresse em melhorar essas condições de trabalho passa pelo pagamento das despesas, ou seja, as empresas não arcam com esses custos, então fica bem cômodo manter tudo como está”, destaca a a procuradora do Trabalho Elaine Nassif, que destinou a verba para a realização da pesquisa.

Os resultados da pesquisa ratificam os malefícios do motor dianteiro, conforme explicou o professor André Guerra: “o ruído e a vibração do motor dianteiro que chega a 87 decibéis em alguns ônibus são responsáveis pela surdez ocupacional e por danos na coluna e fadiga; o design inadequado da cabine, provoca danos na coluna por questões ergonômicas; a direção por períodos prolongados, causa estresse ocupacional, danos na coluna, musculares e lesões”.

Além da adoção do veículo com o motor traseiro o professor destaca outra mudança que trará melhorias para essa categoria, “a reformulação da Norma Nacional a respeito da construção dos veículos, nos estudos identificamos uma série de lacunas na norma nacional em comparação com a internacional e pontos de extrema flexibilidade que deveriam ser mais rigorosos para garantir uma boa condição de trabalho do motorista.”

Há mais de 10 anos, o alto índice de adoecimento na categoria desperta a atenção dos órgãos de proteção da saúde do trabalhador. “Desde 2013 o MPT instaurou mais de 50 procedimentos de investigação, inclusive ações civis públicas (ACP), que apontam os malefícios do motor dianteiro para a saúde de motoristas e agentes de bordo. Os maiores resultados dessa atuação, do ponto de vista jurídico, foi que as ações civis públicas propostas foram acolhidas e a troca de toda a frota para o modelo de ônibus com motor trazeiro foi deferida e está em fase de execução. Esperamos que BH e região metropolitana vem a ser agraciada com a melhoria da qualidade do transporte, seja para os trabalhadores do transporte quanto para seus usuários”, descreve a procuradora do MPT-MG.

Com informações MPT 

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