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Mulheres sofrem mais assédio moral que homens, inclusive de outras mulheres

Mulheres sofrem mais assédio moral que homens, inclusive de outras mulheres

Mulheres são assediadas principalmente por outras mulheres no ambiente de trabalho, segundo conclusão de estudo chamado “Assédio moral no trabalho, gênero, raça e poder”, publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional em 2018. O estudo foi apresentado durante palestra sobre “Assédio moral e seus efeitos na saúde do trabalhador”, ministrada pela médica do trabalho do TRT-MG, Ciwannyr Machado Assumpção, no Colóquio: O feminino contemporâneo e seus desafios, realizado na tarde da última sexta-feira (25), no edifício-sede do Tribunal, em Belo Horizonte.

Segundo dados do relatório, mulheres sofrem mais assédio moral do que os homens e 65% das entrevistadas relataram atos repetidos de violência psicológica, contra 35% dos homens. Negros, mulheres, homossexuais e trabalhadores que retornam ao trabalho com algum tipo de sequela são as principais vítimas.

Ela também enfatizou que os danos causados na saúde do indivíduo afetado são segmentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como psicopatológicos (ansiedade), psicossomáticos (tonteira, gastrite, dor nas costas) e assintomáticos (vida privada, álcool, drogas e isolamento social).

“Tratamos a pessoa afetada pelo assédio, mas não o problema em si. O assédio moral não é doença, não é problema de personalidade. Muitas vezes a estrutura política da empresa é que contribui para tal prática”, disse a médica. Ela também advertiu que o tema é muito banalizado atualmente e que essa desqualificação dificulta sua eliminação no ambiente profissional.

Em sua palestra “O 8 de março e os paradoxos femininos no Brasil”, a procuradora do MPT-MG, Lutiana Nacur Lorentz, abordou a luta das mulheres por direitos mais igualitários e a participação do movimento feminista nesse processo. Ela ressaltou que as leis brasileiras são muito mais punitivas do que protetivas e que isso não é suficiente para solucionar a situação atual.

Lorentz lembrou também que a representação, a redistribuição e o reconhecimento são essenciais para a discussão de gênero e raças a fim de desmistificar o “papel natural” da mulher. Ampliar a participação política e instituir a licença parental são exemplos para melhorar e reconhecer o papel da mulher na sociedade. “A luta é societária. Quanto mais simetria de gênero há num país, mais igual ele é”, disse.

“Mulher Objeto no Século XXI” foi o tema escolhido pela desembargadora do Tribunal Rosemary de Oliveira Pires. Ela defendeu a desconstrução do gênero como ferramenta para alcançar uma sociedade mais igualitária para homens e mulheres. Destacou ainda que, embora existam leis protetivas, as mulheres ainda são mais afetadas pela violência.

“Homens e mulheres são iguais em raça, mas diferentes em condições individuais. Por isso, a necessidade de disseminar direitos das mulheres, tanto com medidas corretivas e punitivas, como para estabelecer um projeto de cidadania e evolução da humanidade. A norma de proteção contra discriminação é uma projeção de formação de cultura”, argumentou.

A desembargadora ainda mencionou as leis 10.224/200111.340/200613.104/201513.467/2017 e as resoluções do Conselho Nacional de Justiça para afirmar a ideia de que é preciso combater a cultura machista enraizada em nossa sociedade, pois, segundo ela, “quanto mais um país tem legislação, mais certeza se tem da situação daquela sociedade. Deve-se trabalhar na questão do direito de todos”.

O último tema do colóquio, “Assédio sexual no consultório médico”, apresentado pela presidente do CRM-MG, Cláudia Navarro Carvalho Duarte Lemos, explicou como denunciar casos de assédio praticados dentro do consultório, tanto por parte dos pacientes quanto pelos profissionais, e como reunir provas para fazer a denúncia no Conselho.

“O assédio sexual no consultório médico pode levar ao suicídio. Por motivos de vergonha, medo e até para evitar conflitos, as vítimas se calam”, disse a médica.

Abertura

O Colóquio foi presidido apenas por mulheres e é uma realização do Programa Trabalho Seguro, Comitê Gestor de Saúde e Escola Judicial. A abertura foi feita pelo presidente do TRT-MG, desembargador Marcus Moura Ferreira, que falou sobre o enfrentamento das mulheres perante a discriminação.

“Vejo neste colóquio o potencial de expandir-se em outros futuros eventos, que promovam a inclusão e a consideração dos lugares de fala das mais variadas expressões do feminino contemporâneo, de modo a tornar o Tribunal palco de debates o mais plural e democrático possível, como de resto deve ser sempre a perspectiva daqueles que se ocupam do Direito do Trabalho”, ressaltou.

Para a gestora regional do Programa Trabalho Seguro, desembargadora Denise Alves Horta, presidente da mesa, discutir a questão da mulher na sociedade atual é essencial porque expõe as mais variadas dificuldades e problemáticas enfrentadas por elas, sobretudo, relacionadas à violência.

“É preciso enfatizar que o movimento de afirmação feminina na sociedade acontece num processo histórico que, embora tenha alcançado significativa evolução até os dias de hoje, permanece clamando pela necessidade de erradicação das resistências que insistem em perdurar nos mais variados âmbitos, inclusive alcançando pessoas transgêneros, transexuais e travestis que vêm lutando pelo reconhecimento, sem discriminação, de sua identidade”, disse a desembargadora.

Exposição

Compondo as atividades do Colóquio, até 16 de abril, quem passar pela sede do TRT-MG em Belo Horizonte poderá ver o projeto fotográfico “Mulheres Cabulosas da História”, criado pela organização de Mulheres do Levante Popular da Juventude, com o objetivo de reconstruir a memória de mulheres que tiveram atuações importantes na história brasileira e mundial, mas que nem sempre foram devidamente reconhecidas pelo registro histórico oficial.

O material do projeto consiste em fotografias das próprias integrantes do Levante Popular da Juventude, as quais interpretaram mulheres consideradas grandiosas ao longo da história, de forma a gerar a reflexão acerca do poder e do protagonismo feminino em todos os tempos, seja passado, presente ou futuro.

TRT MG

Foto: Leonardo Andrade

 

 

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